quinta-feira, 7 de abril de 2011

A marca, a embalagem e a crise.

“Líder de uma das marcas mais referenciadas do mundo, Steve Jobs passa quase tanto tempo pensando na embalagem de seus gadgets quanto nos próprios produtos. Não é uma questão de gosto ou de elegância, embora isto também faça parte de suas preocupações. Para Jobs, o ato de tirar o produto de sua caixa é uma parte importante da experiência do usuário e, como tudo o mais que ele faz, é pensado com muito cuidado para contribuir com a percepção geral de sua marca.”

* Fábio Mestriner

O que lemos acima é o primeiro parágrafo da introdução do livro “A cabeça de Steve Jobs”, de Leander Kahney, lançado pela editora Agir. Poucos empresários perceberam como ele, que a embalagem é integrante do processo de relacionamento do consumidor/usuário com o produto e componente importante da experiência de consumo.

Todos compreendem a sensação que nos proporciona o desembrulhar de um presente, a expectativa da descoberta, a alegria de receber algo, mas poucos conseguem transferir isto para seus próprios produtos. Steve Jobs percebeu que a embalagem faz diferença, percebeu claramente sua contribuição ao processo de engajamento do usuário à marca. Ao estudarmos o processo de construção de uma marca, descobrimos que ela é o resultado e o repositório de todas as ações que a empresa desenvolve ao longo do tempo, fixado na mente do consumidor.

Neste processo de construção, a embalagem desempenha um papel fundamental pois ela é o elemento físico que está presente no momento mágico em que o consumidor realiza a experiência com o produto. A embalagem consolida a proposta da marca e os significados objetivos e simbólicos do produto, fazendo a entrega destes atributos ao consumidor. Ela participa do processo de comunicação funcionando como repositório da mensagem emitida pelo fabricante, aparecendo nos anúncios para informar ao consumidor aquilo que a empresa deseja que ele compre.

É a ligação entre o veiculado na mensagem e o objeto final a ser encontrado. Por ser em última instancia a identidade do produto ela tem papel decisivo na recompra ao permitir que o consumidor encontre novamente o produto com o qual ele teve uma experiência positiva. Pesquisas do Comitê de Estudos Estratégicos da Associação Brasileira de Embalagem (Abre) demonstram que o consumidor não separa a embalagem de seu conteúdo, para ele os dois constituem uma única entidade indivisível. A embalagem contamina de forma decisiva e inevitável a percepção da marca, para o bem e para o mal.

Sabemos que cerca de 90% dos produtos vendidos em um supermercado não têm apoio de marca, dependem única e exclusivamente da embalagem para competir e construir suas marcas. Em tempos de crise e restrição de verbas de marketing e comunicação como a que estamos vivendo, todos os recursos disponíveis precisam ser utilizados ao máximo. O custo da embalagem está embutido no produto e a empresa já pagou por ele.

Portanto, ela tem em mãos uma poderosa ferramenta de marketing a custo quase zero. Por desconhecer questões simples como estas, muitas empresas deixam de aproveitar suas embalagens para estender, aprofundar e tornar mais relevante a experiência dos consumidores com suas marcas.

Fonte: www.abre.org.br

* Fábio Mestriner é coordenador do núcleo de estudos da embalagem da ESPM e professor da Sustentare Escola de Negócios/Joinville

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